domingo, 26 de dezembro de 2010

Ouve?

Quando a melodia toca errada, das duas uma: ou troca-se o disco, ou realinha-se a agulha. O embolar dos ritmos faz-se notar até aos mais leigos.

Disco pesado pra unidade.

Eu (suspiros) tenho ouvido apurado.


Ingrid Tinôco

domingo, 19 de dezembro de 2010

Amigos

Conta-se os amigos pelo cheiro de lembrança que eles te despertam à distância, pelas risadas em domingos entediantes, pelas longas conversas que não dizem nada ou revelam tudo, pelas lágrimas encharcando o ombro ou as confissões no escuro sob um céu sem estrelas. Sabem-se amigos pela falta, pela necessidade, pelo carinho, pela compreensão. Descobrem-se amigos pela independência, pelo respeito, pela falta de palavras e o entendimento mútuo, claro, leve. Certificam-se amigos quando distância não afasta, quando tempo não modifica; quando seus defeitos são aceitos e ditos à queima-roupa, sem rodeios, pro seu próprio bem; quando suas vitórias são comemoradas com sinceridade e verdade, como se fossem dele e as derrotas são amparadas sem titubear. Sentem-se amigos quando não se precisa declarar, quando abraços falam tanto quanto olhares e sobra entendimento, sobra sentimento.

Tenho amigos a quem ainda não declarei verdades guardadas, mas por quem tenho respeito e amor suficiente para prostrar-me ao lado mesmo sem pedidos. Tenho aqueles de longa e de força, que não há tempo que enfraqueça ou distância que afaste. Tenho os de longe mesmo perto, que o sentimento abranda mas não modifica. E tenho ainda os futuros, que o tempo não deixou consolidar, mas resta a pontinha de desejo, o coleguismo afeituoso e a felicidade da união.

Agradeço hoje a todos os meus amigos, pelo tudo e pelo nada. Porque acredito que não existe “obrigado(a)” cabível naquilo que a gente faz por prazer e repete por vontade.

A eles, todo o meu carinho.



Ingrid Tinôco

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sombra

É que eu também tenho meus dias de sombra, sabe? Em que a necessidade de um abraço pode se transformar nas piores frases, ditas nos piores momentos. E eu posso nem me importar se você fala sempre a verdade. Nesses dias, você vai desejar não ter deixado aquela brincadeira subentender perigo. Vai entender que é importante não omitir, mesmo sem querer e vai aprender que a minha capacidade criativa pode ir além do que se pode imaginar ou do que eu posso transparecer possuir.

Eu vou me desculpar, mas vou fazer de novo, em questão de minutos. Me desculparei de novo no dia seguinte, menos tensa, menos chata, menos “tá que tá” como alguém diria e nós até riremos de tudo, mas vou voltar a repetir semana que vem, mês que vem, ou até daqui a anos.

Fazer o que se eu preciso de dias para exigir muito e me explicar pouco? Para colocar pra fora minha intolerância guardada a chaves e minha impaciência que eu tento esconder diariamente?!

Minha sombra raramente anuncia tempestade, mas eu preciso fechar o tempo pra relembrar o valor do claro.



Ingrid Tinôco