segunda-feira, 2 de junho de 2014

Vai ter copa, sim?

Hoje ouvi Fernanda Takai cantando que "só a gente sabe emocionar cantando o hino a capela" junto a um trecho desse fato (quem foi atleta sabe como o coração bate forte enquanto isso acontece) e mais outros versos bonitos, e eu quis que aquilo tudo fosse verdade. Sério, eu queria me animar com essa copa, queria sim vestir verde amarelo, oferecer aquelas festas animadas pros gringos e mostrar o futebol-arte que, convenhamos, a gente sabe fazer. Eu quis estar ansiosa pra ver como isso vai movimentar o país e pros jogos que - me julguem o quanto quiser - vou assistir nos novos estádios superfaturados.

E pode ser que eu até faça tudo isso. Mas eu ainda não consegui! Como muitos, cansei tanto de ver desgraça no país do futebol que qualquer "esmolinha" de coisa boa é "pão e circo", é "jogo político", é "vitória comprada e eleição vencida", isso me cansa e dá é vontade de dormir durante os gritos de gol.

Eu acho que esporte é uma coisa absurdamente incrível, mas sabemos que isso não é só esporte, é evento e política, então, eu queria uma copa que trouxesse educação e saúde junto. Sabe quando a gente arruma a casa pra visita chegar? Pronto! Mas eu queira faxina completa, entendem? Receber os gringos falando inglês, mostrando minhas crianças alimentadas e educadas, seus pais empregados e todos agradecendo ao SUS pelo atendimento de qualidade, queria profissionais satisfeitos enquanto trabalhavam numa casa em que as coisas funcionavam como previsto (ao invés de receber bolsa-auxílio sem lavar um prato), queria levar as visitas a um passeio, sem que precisasse deixar às máquinas e os celulares em casa por medo de assaltos. Tá, tudo bem, é utopia demais, pois que pelo menos mostrássemos as tentativas de organização (e isso não significa tapumes escondendo obras inacabadas, leitos falsos em hospitais decadentes ou mobilização das forças armadas pra garantir parcialmente a segurança).

Mas isso, infelizmente, não vai acontecer. E, se por um lado eu queria que nos envergonhássemos na frente das visitas pra ver se melhoramos nas próximas, se eu queria que o administrador da casa levasse a mesma vaia que ele(a) recebeu durante um show esses dias (foi lindo e um abraço para os defensores da autoridade máxima); por outro, acho que roupa suja se lava em casa sem sequer os vizinhos ouvirem (quanto mais os visitantes). E se a festa custeada com o dinheiro do leite das crianças e do plano de saúde, piso furado e goteira pingando já está marcada, então, façamos o mínimo de esforço para que flua só para não desperdiçar os bilhões.

Mas se não quiser ajudar, que não atrapalhe. Os protestos de outrora de nada adiantaram, uma pena, é verdade, por isso não acredito que agora irão. Só seremos motivo de fofoca e chacota na rua e disso já estamos cheios, né?!

Pois que cada um devia querer ou não querer copa da maneira que lhe convém, cada um tem as próprias opiniões e princípios, amor pelo futebol ou asco a política nacional. Gritando gol ou viajando pra outro país, só acho que mesmo que nos pintemos de verde amarelo, essa pintura precisa perdurar um pouquinho. Sei que depois da festa, a ressaca vem com força, e se há prova no outro dia, é certeza de boletim vermelho (dessa vez, o cuidado é com um botão verde, escrito "confirma").

Eu sei que vou acabar me contagiando pelo sentimento da copa, alienação política ou hipocrisia, sei não, mas vou, é de mim esquecer algumas coisas momentaneamente. Mas não vou ter ressaca sabe?! Primeiro porque não vou me embriagar nem de cachaça, nem de alegria amnésica (que eu acabei de inventar), e vou fazer questão de lembrar quem foi que convidou a visita sem que tivesse limpado o pó dos móveis.

#vaitercopasim, mas também vai ter eleição!

Ingrid, que ainda não se decidiu se grita gol ou tira o atraso do sono acumulado.