segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Soprando leve

E ela acordara leve. Pisou o chão gelado e teve a sensação de sentir-se viva como há tempos não sentia.

Parecia ter despertado de um sono intenso e revigorante, como se tivesse dormido uma e acordado outra.

Deixou no travessero as angústia e medos, as raivas e desesperos, a face séria e o diálogo cansado. Espreguiçou-se para o novo eu, abraçando-o junto com os primeiros raios de sol da manhã.

Penteou os cabelos com calma, era assim que deveria ser. Lavou o rosto com águas novas e viu no espelho as alegrias que nunca deveriam ter pensando em sair dali. Perguntou-se porque passara tanto tempo reclamando da vida…não achou resposta.

Sentiu prazer novamente em segurar o lápis e rabiscar palavras, nos pequenos gestos, naqueles detalhes. Tinha tudo que precisava e corria atrás do futuro que ela mesma planejara. O que mais desejaria? Os sonhos estavam ali, sendo concretizados pouco a pouco.

Prometeu ler mais, sorrir mais, ser mais doce e mais firme, comer melhor, nadar para expulsar os ruins e fazer bem a si. Queria sentir-se viva todos os dias e fazer algo para isso acontecer.

Era assim que as segundas-feiras deviam começar e terminar, pensou a moça baixinho. Dormiu ansiando a terça, não mais o sábado.

Ingrid Tinôco

terça-feira, 20 de outubro de 2009

The End

E a gente inventa histórias para não cair na realidade. E vai pensando que podia ser quando na verdade não é. E acredita nas desculpas porque o gostinho do que elas trazem é bom. E vamos engolindo sapos só pra sentir as borboletas no estômago outra vez, mas vejam só: sapos pulam, não voam, e não tem belas asas coloridas! E a gente pisa na lama e insiste em dizer que a nova cor da calça ficou linda, que basta botar para lavar se quiser o antigo de novo.

Não basta!

Melhor chorar agora que quando a faca(na qual sob a ponta você está dando murros) acabe por causar ferimentos mais profundos.

Eu sei que você espera muito dos outros porque se doa por inteiro(ao contrário de mim, não é?!) e acho isso bonito, na maioria das vezes. Mas coração se ilude fácil, e brincar de iô-iô com ele não funciona. Uma hora a cordinha cai do dedo e os estilhaços voam longe, pra recuperá-los gasta tempo, viu?!

É preciso saber quando as etapas chegam ao final, Fernando Pessoa já dizia isso. E por mais que você insista em ficar nela, uma hora vão te expulsar.

Mas dê aquele último “adeus” só pra não jogar fora o que você preparou. Depois esqueça os diálogos ensaiados, o número, o cheiro. Fique com os flashes bons e só…eu disse SÓ.

Replay não continua filme e eu quero ver um final feliz na sua história.


Ingrid Tinôco




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Que fique claro aos leitores, apesar de já ter colocado no marcador, essa história não é minha, viu?! Não agora! Meu coração anda muito bem, ocupadíssimo e feliz ;)

domingo, 18 de outubro de 2009

Meu "sinto muito"

Faltavam-lhe motivos e sobravam emoções. Pensou no “se” com ela e no “está sendo” com o outro. Não era pena, nem sabia se compaixão. Mas era um bixinho estranho que lhe mordera o peito e lhe fizera crer que a vida é mesmo algo muito frágil.

Queria abraçar e dizer que estava tudo bem, mas não estava e isso não adiantaria. Preferia que mágica lhe fosse concedida, que Deus rebobinasse o filme e fizesse diferente. Que sorrisos fossem pintados, ou mesmo rostos sérios, ao invés de lágrimas. Pensou que poderia ter se feito mais presente.

Não conseguia medir aquela dor e nem queria, gotas rolaram só de imaginar. Abraçou-se com o cúmplice de sangue e pediu-lhe que não a deixasse, fê-lo dormir sabendo que o amava com todas as forças que esse sentimento podia ter.

Agradeceu a Deus pelas graças de sempre e pediu-lhe paz àquela família e à amiga querida.



Descobriu, então, que não sabia lidar com a morte. Sentiu doer outra vez.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ora, tenha a fineza de desinventar

É que tem horas que preciso gritar pra não morrer de angústia. E não há quem veja penas por trás dessa vidinha fácil que eu teimo em levar.

E quem disse que há? Invento-as e sofro pelas minhas próprias ilusões.

É que o faz de conta acabou e a vida real é chata. E olha que ainda nem entrei no carrossel que há por vir, ainda estou comprando ingresso na bilheteria, com um medo incontrolável da montanha-russa fitada ao fundo, mas ânsia insaciável da futura euforia.

Estresse, meu bem, estresse. Auto-controle mandou lembranças e disse que qualquer dia me visitaria. Quando eu crescesse o suficiente para isso.

Já falei aqui que crescer dói, não foi?!

Pois é...sinto dores e ando capenga, como uma velha que se entrega à idade.

Entregar-se é feio, eu sei! Mas fraquejei, e aí?! Vai brigar comigo também ou me deitar no colo e alisar os cabelos?

Talvez bastasse.

Agora eu grito - como o Chico (Buarque, claro) - para o infeliz que inventou a tristeza ter a fineza de desinventá-la. Rápido, se não for pedir demais!


Ingrid Tinôco

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

será?!

Ela reclamava, xingava, enchia os olhos de lágrimas que não rolavam de teimosas que eram. A vontade era de gritar, ou melhor, de rasgar, jogar tudo pro alto e se jogar na piscina mais próxima. Esfriar as idéias, re-esquentar as turbinas que andavam congeladas pelo caminhar que as coisas vinham levando. Faltava-lhe a vivacidade de sempre. E mesmo que o sorriso mostrasse alegria, alguma coisa na maquinaria interna não andava bem.

Sentiu saudades do antes, do sono, do salto, da música e das conversas sem nexo em plena madrugada.

Todos os dias acordava pensando se estaria no lugar certo.

E dormia pensando que não queria sair dali.


Ingrid Tinôco

domingo, 4 de outubro de 2009

Com açúcar e com afeto

"Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida."
Caio Fernando Abreu


Me veio com bônus de doçura e um quê de seriedade. Açúcar e afeto na medida certa, como ouvi naquela música. Porque se transbordar, estraga, e o bom é aproveitar os detalhes.
E vamos aos poucos descobrindo gestos, frases e forças. E os seus verdes vão encontrando os meus escuros e falando aos poucos, baixinho e junto.
Porque felicidade a gente constrói, e meus alicerces já estão à mostra.


Ingrid Tinôco