terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Quando fechei a porta enquanto você batia insistentemente, me doeu a alma. Sabia que trancava a casa (e o coração) aquele que já havia se esparramado no sofá, bagunçado minhas coisas e dado cor as minhas paredes. Mas é que agora eu tinha cacos a juntar, sabe? E quando eu colava pacientemente os (meus) pedaços, vem você me tocar a campainha e me fazer tremer, derrubando tudo novamente. Estabilidade ilusória. A fresta que eu abri pra vê-lo fez entrar luz, remexeu sentimentos e me abriu sorrisos; mas o sopro de vento reacendeu as dores de um passado próximo. E eu bati por dever, e chorei por não querer.

"Decisão
 Dê-cisão"
(Pó de lua)

Ingrid Tinôco
23/12/2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Estaremos ali

Sim, serei sempre a morena dos olhos d'água, pois foi assim até o derradeiro encontro. E você me verá quando Chico cantar qualquer coisa, enquanto Roberta continuará com nossas músicas ensaiadas e Nando recitará Aquela. Estarei sempre na acidez das balas do cinema, na pizza do domingo e nas listas de livros. E eu vou continuar a jogar com palavras, aquelas mesmas do "elo" que um dia você questionou. 


E então o amor vai virar bom dia, a cumplicidade dos olhares, mera educação. E memórias serão fotos e fatos só nossos que virão em segredo nos atiçar a mente quando o cheiro nos trouxer lembrança. E eu já nem uso mais o perfume que você escolheu pra mim, ele virou história. E você já nem lembra das juras que um dia fiz, isso virou passado. 


Nossos planos continuarão ali, inacabados, como as obras de um governo que sempre foi discórdia. E os novos virão para machucar os egos e atiçar ciúmes do que um dia foi posse.


E se o futuro for pra nós saudade? E se meu sapato continuar a pisar no teu dentro do armário enquanto teu paletó enlaça meu vestido sem me deixar sair?


Esperemos, então, o tempo da delicadeza, quem sabe?! Enfim...




"Nos seus livros, nos seus discos, vou entrar na sua roupa e onde você menos esperar... Eu vou estar..."

(Capital Inicial)


Ingrid Tinôco

18/09/2014


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Logo eu, que nunca precisei fingir interesse, escuto meias-verdades enquanto vejo certezas. É muito pau pra pouca cara de, viu?! Recebe mesmo os beijos oferecidos por outrem, porque vinda dos meus lábios, agora, só lhe resta a educação.

"Estes laços hoje são estilhaços"
(Eu me chamo Antônio)

Ingrid Tinôco

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sobreviventes

O coração angustia dores nunca antes sentidas e a mente tenta acalmá-lo com a racionalidade de quem esqueceu do passado. Nos perdemos naquele mar e esquecemos, desta vez, os remos que outrora nos fizeram tão fortes. Hoje, nadamos em direções opostas, nos iludindo de que estamos seguindo a mesma maré. Já não sou sua sua âncora, já não és meu colete. Sei que não posso mais alcançá-lo, mas o medo de afogar-me longe de ti faz com que, ainda assim, a água me invada. Logo eu, que me orgulhava em não cansar de nadar (remar). 

E desta vez, exausta, não sei quem irá nos salvar.

Ingrid Tinôco

terça-feira, 22 de julho de 2014

Foi a pediatria...

Pelas vezes que me fui princesa para adentrar aos castelos alheios sem despertar o choro, ou me fiz menino, para que a intimidade não constrangesse tanto. Pelos exames sentada ao chão ou de joelhos sobre a mesa de brinquedos, já que os "iguais" se entendem melhor. Pelos momentos em que o estetoscópio pareceu machucar e as mãos, ora macias, simulavam arranhar a pele e despertar as lágrimas, desesperadoras para mim, tão verde na nova arte, e para eles, tão novos nesse mundo estranho. Pelas cócegas ao exame abdominal, que me tiraram o riso e por tantas tentativas frustradas de um exame mais calmo. Pelos pequenos médicos que descobri, incentivei e para os quais fui paciente, com muito gosto. Pelos menores que com medo segurei, pequenos diamantes, tão frágeis e fortes, a quem me confiaram o corpo. Pelos que descobriam as palavras aos poucos e pareciam querer usar todas de uma só vez. Pelos maiores que me confiaram segredos, que me ouviram com responsabilidade e me aceitaram como a uma amiga. Por ter redescoberto a leveza da vida, a magia do brincar e a sinceridade dos olhos. E por fim, por todos os abraços tímidos e sorrisos escancarados que me mostravam os dentes e as almas daqueles que, tão novos na escola da vida, me ensinaram tanto na arte do cuidar.

Ingrid Tinôco
Junho 2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Vai ter copa, sim?

Hoje ouvi Fernanda Takai cantando que "só a gente sabe emocionar cantando o hino a capela" junto a um trecho desse fato (quem foi atleta sabe como o coração bate forte enquanto isso acontece) e mais outros versos bonitos, e eu quis que aquilo tudo fosse verdade. Sério, eu queria me animar com essa copa, queria sim vestir verde amarelo, oferecer aquelas festas animadas pros gringos e mostrar o futebol-arte que, convenhamos, a gente sabe fazer. Eu quis estar ansiosa pra ver como isso vai movimentar o país e pros jogos que - me julguem o quanto quiser - vou assistir nos novos estádios superfaturados.

E pode ser que eu até faça tudo isso. Mas eu ainda não consegui! Como muitos, cansei tanto de ver desgraça no país do futebol que qualquer "esmolinha" de coisa boa é "pão e circo", é "jogo político", é "vitória comprada e eleição vencida", isso me cansa e dá é vontade de dormir durante os gritos de gol.

Eu acho que esporte é uma coisa absurdamente incrível, mas sabemos que isso não é só esporte, é evento e política, então, eu queria uma copa que trouxesse educação e saúde junto. Sabe quando a gente arruma a casa pra visita chegar? Pronto! Mas eu queira faxina completa, entendem? Receber os gringos falando inglês, mostrando minhas crianças alimentadas e educadas, seus pais empregados e todos agradecendo ao SUS pelo atendimento de qualidade, queria profissionais satisfeitos enquanto trabalhavam numa casa em que as coisas funcionavam como previsto (ao invés de receber bolsa-auxílio sem lavar um prato), queria levar as visitas a um passeio, sem que precisasse deixar às máquinas e os celulares em casa por medo de assaltos. Tá, tudo bem, é utopia demais, pois que pelo menos mostrássemos as tentativas de organização (e isso não significa tapumes escondendo obras inacabadas, leitos falsos em hospitais decadentes ou mobilização das forças armadas pra garantir parcialmente a segurança).

Mas isso, infelizmente, não vai acontecer. E, se por um lado eu queria que nos envergonhássemos na frente das visitas pra ver se melhoramos nas próximas, se eu queria que o administrador da casa levasse a mesma vaia que ele(a) recebeu durante um show esses dias (foi lindo e um abraço para os defensores da autoridade máxima); por outro, acho que roupa suja se lava em casa sem sequer os vizinhos ouvirem (quanto mais os visitantes). E se a festa custeada com o dinheiro do leite das crianças e do plano de saúde, piso furado e goteira pingando já está marcada, então, façamos o mínimo de esforço para que flua só para não desperdiçar os bilhões.

Mas se não quiser ajudar, que não atrapalhe. Os protestos de outrora de nada adiantaram, uma pena, é verdade, por isso não acredito que agora irão. Só seremos motivo de fofoca e chacota na rua e disso já estamos cheios, né?!

Pois que cada um devia querer ou não querer copa da maneira que lhe convém, cada um tem as próprias opiniões e princípios, amor pelo futebol ou asco a política nacional. Gritando gol ou viajando pra outro país, só acho que mesmo que nos pintemos de verde amarelo, essa pintura precisa perdurar um pouquinho. Sei que depois da festa, a ressaca vem com força, e se há prova no outro dia, é certeza de boletim vermelho (dessa vez, o cuidado é com um botão verde, escrito "confirma").

Eu sei que vou acabar me contagiando pelo sentimento da copa, alienação política ou hipocrisia, sei não, mas vou, é de mim esquecer algumas coisas momentaneamente. Mas não vou ter ressaca sabe?! Primeiro porque não vou me embriagar nem de cachaça, nem de alegria amnésica (que eu acabei de inventar), e vou fazer questão de lembrar quem foi que convidou a visita sem que tivesse limpado o pó dos móveis.

#vaitercopasim, mas também vai ter eleição!

Ingrid, que ainda não se decidiu se grita gol ou tira o atraso do sono acumulado.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Entre clichês

Entre verdades e clichês, fiquei com os fatos. Aquilo de "não cantar felicidade, porque inveja tem sono leve", sabe?! Acho mesmo é que ela vive sempre acordada. Felicidade é algazarra, esperança é efusiva. As minhas são! Pois que acordam ou chamam a bruxa má que mora ao lado.  Quando eu digo ao lado, é colado mesmo, dando bom dia e sorrindo animada. Sempre acreditei em suas máscaras, não vou mentir, me parecem momentaneamente bonitas, de quem vai me oferecer o braço quando eu quiser. Pois que os empurrões vem, inevitavelmente, em seguida. E eu sigo juntando os cacos das quedas imprevisíveis e sempre mal calculadas. Tolinha. Vamos voltar à primeira frase, pra jamais esquecer de mais um "aspeado" de vida: "se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro"... e, de agora em diante, que aticem os ouvidos por entre as paredes.

Ingrid Tinôco