Ela voltou aquele mesmo lugar, onde sempre ia intuitivamente para descarregar-se. Havia uma fonte(sempre houvera), debruçou-se sobre a borda mas não viu a normalidade de sempre, a pedra fria e lisa não mostrava sinal do conteúdo, nem respingos parecia haver ali.
Como podia? Eram aquelas águas as responsáveis pelo desabafar do grito calado, do romance frustrado, da alegria sem fim. Fora ali que sempre tivera o amparo silencioso e solitário, por onde até perdera momentos precisos de um sono intranqüilo. Agora estava diferente, por mais que sentisse necessidade de voltar àquele local, de utilizar-se daquele artifício para alívio próprio, não conseguia. Algo a empatava.Não havia a água para “lavar” da sua mente as palavras guardadas e reorganizá-las numa ordem lógica.
Parou tentando achar uma resposta, poucas idéias lhe ocorriam. Era isso! O problema não estava na fonte material, mas naquele ser pensante que dela usufruía. A culpa era, justamente, dessas poucas idéias que lhe ocorriam. Tava faltando a sensibilidade que explodia em palavras não faladas, mas escritas. O “feeling” que transformava momentos em letras, cheiros em vírgulas, gostos em interrogações. Aquilo desaparecera, ou escondera-se, sem motivo claro.
Riu de sua própria situação, talvez soubesse o que lhe faltava para fazer jorrar de novo a fonte, mas nada era certo naquela situação. Mais emoções, menos mesmice, livros talvez... a receita era incerta, mas não custava arriscar. A sensação era das melhores, e ela precisava tê-la novamente. Refrescaria-se naquelas águas em breve, ambicionou em silêncio e partiu.
Ingrid Tinôco :)
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