Acordara disposta, as gotas finas de chuva que salpicavam a janela pintavam a tela perfeita para bons textos. De pijama e chinelo arrumou o laptop entre as pernas e prendeu os cabelos para dar o ar de intelectualidade caderno em mãos junto à caneta preferida. Era um dia lindo para belos textos, quem lhe diria o contrário? Olhou aquela folha branquinha de linhas perfeitas e já vislumbrou a caneta deslizar palavras certinhas, contando casos de amor, de revolta ou de sofrimento, como todo bom texto que se preza tem que ter. Olhou, olhou, olhou... Mas não veio um sequer caso de amor, bom ou mal; as revoltas não tomaram formas cabíveis e o sofrimento, nem se fala, fazia tempo que não tinha um daqueles grandes e "bons", sabe? Que tiram fôlego, lágrimas e todo o juízo em forma de letras. Bateu desespero, angústia, tristeza, bateu até fome, mas escrita que é bom, nada! Não vinha. Não tinha ideia que chegasse, música que inspirasse ou sentimento que brotasse. Se começar era impossível, terminar era indefinível. Coração e cérebro desconectaram, era a única explicação. "E agora, José?", ela gostava tanto daquela mistura de razão e emoção batidas com gosto agridoce. Desistiu. Voltou a dormir no travesseiro que tantas vezes lhe arrancara choros e prosas, foi acariciar o protagonista das confissões de outrora e pedir-lhe umas novas... n-o-v-a-s, entendeu? Adormeceu sem sonhos.
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