''...E parecia uma menina cheia de fé em tudo aquilo que suspeitava real, embora invisível.''
(Caio Fernando Abreu)
(Caio Fernando Abreu)
Por mais que quisesse provar o contrário com pensamentos premeditados e até racionais, era mentira. Ela ainda acreditava. Naquilo e nos outros. Pensava em demasia, sentia em quantidade e expressava em poucos. E daí? Não se importava. Eu sabia que era mentira. Ela sempre tinha o menor em vista, esperando que lhe provassem o contrário. Como quem vai esperando pouco, mas querendo o muito lá no fundo. Se caísse, o chão pareceria mais fofo já que esperava a pedra. Se subisse o céu pareceria mais azul, pois o imaginava negro. E assim seguia numa coragem disfarçada, numa frieza falsa.
Sabe quando o Chico cantou “Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito/ exijo respeito/ não sou mais um sonhador/ Chego a mudar de calçada/ quando aparece uma flor/ e dou risada de um grande amor...” e no final vem aquela voz gritando “MENTIRA!”?! Tenho pra mim que assim era. No íntimo, ela queria os campos de flores e os grandes amores. Mas aquilo era invisível aos outros e ela preferia fechar os olhos também. Mas no quarto escuro, com a porta trancada e o silêncio absoluto ela abria-os como quem nunca enxergou nada, e admirava, deslumbrada, o que insistia em esconder.
Sabe quando o Chico cantou “Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito/ exijo respeito/ não sou mais um sonhador/ Chego a mudar de calçada/ quando aparece uma flor/ e dou risada de um grande amor...” e no final vem aquela voz gritando “MENTIRA!”?! Tenho pra mim que assim era. No íntimo, ela queria os campos de flores e os grandes amores. Mas aquilo era invisível aos outros e ela preferia fechar os olhos também. Mas no quarto escuro, com a porta trancada e o silêncio absoluto ela abria-os como quem nunca enxergou nada, e admirava, deslumbrada, o que insistia em esconder.
Ingrid Tinôco