Quando a melodia toca errada, das duas uma: ou troca-se o disco, ou realinha-se a agulha. O embolar dos ritmos faz-se notar até aos mais leigos.
Disco pesado pra unidade.
Eu (suspiros) tenho ouvido apurado.
Ingrid Tinôco
Quando a melodia toca errada, das duas uma: ou troca-se o disco, ou realinha-se a agulha. O embolar dos ritmos faz-se notar até aos mais leigos.
Disco pesado pra unidade.
Eu (suspiros) tenho ouvido apurado.
Ingrid Tinôco
Conta-se os amigos pelo cheiro de lembrança que eles te despertam à distância, pelas risadas em domingos entediantes, pelas longas conversas que não dizem nada ou revelam tudo, pelas lágrimas encharcando o ombro ou as confissões no escuro sob um céu sem estrelas. Sabem-se amigos pela falta, pela necessidade, pelo carinho, pela compreensão. Descobrem-se amigos pela independência, pelo respeito, pela falta de palavras e o entendimento mútuo, claro, leve. Certificam-se amigos quando distância não afasta, quando tempo não modifica; quando seus defeitos são aceitos e ditos à queima-roupa, sem rodeios, pro seu próprio bem; quando suas vitórias são comemoradas com sinceridade e verdade, como se fossem dele e as derrotas são amparadas sem titubear. Sentem-se amigos quando não se precisa declarar, quando abraços falam tanto quanto olhares e sobra entendimento, sobra sentimento.
Tenho amigos a quem ainda não declarei verdades guardadas, mas por quem tenho respeito e amor suficiente para prostrar-me ao lado mesmo sem pedidos. Tenho aqueles de longa e de força, que não há tempo que enfraqueça ou distância que afaste. Tenho os de longe mesmo perto, que o sentimento abranda mas não modifica. E tenho ainda os futuros, que o tempo não deixou consolidar, mas resta a pontinha de desejo, o coleguismo afeituoso e a felicidade da união.
Agradeço hoje a todos os meus amigos, pelo tudo e pelo nada. Porque acredito que não existe “obrigado(a)” cabível naquilo que a gente faz por prazer e repete por vontade.
A eles, todo o meu carinho.
Ingrid Tinôco
É que eu também tenho meus dias de sombra, sabe? Em que a necessidade de um abraço pode se transformar nas piores frases, ditas nos piores momentos. E eu posso nem me importar se você fala sempre a verdade. Nesses dias, você vai desejar não ter deixado aquela brincadeira subentender perigo. Vai entender que é importante não omitir, mesmo sem querer e vai aprender que a minha capacidade criativa pode ir além do que se pode imaginar ou do que eu posso transparecer possuir.
Eu vou me desculpar, mas vou fazer de novo, em questão de minutos. Me desculparei de novo no dia seguinte, menos tensa, menos chata, menos “tá que tá” como alguém diria e nós até riremos de tudo, mas vou voltar a repetir semana que vem, mês que vem, ou até daqui a anos.
Fazer o que se eu preciso de dias para exigir muito e me explicar pouco? Para colocar pra fora minha intolerância guardada a chaves e minha impaciência que eu tento esconder diariamente?!
Minha sombra raramente anuncia tempestade, mas eu preciso fechar o tempo pra relembrar o valor do claro.
Ingrid Tinôco
Junta as mãos e monologas com um amigo que há muito não falas. Conta-lhe sua vida, revela teus medos, chora angústias e mostra-lhe anseios. Seja claro, informal, certas amizades não se abalam com o tempo, e a intimidade perdura até no inimaginável. Não procure títulos, eles pouco representam a grandeza de alguém. Diz tudo, das idéias mirabolantes aos planos mais banais. Pede. Mas pede com a força de quem luta para tê-lo. Pede com a coragem de quem sabe ir até o final da estrada. Pede com suor, com lágrimas, com aquela fé que por vezes insistisses em esconder por uma descrença boba. Dá a cara à tapa e entrega o que está fora do teu controle, do teu mundinho, das mãos pequenas e por vezes frágeis. Mostra tua fraqueza, esquece essa vergonha tola, o que é revelado aqui, fica aqui, e não há testemunhas para tuas frases, teus gestos e ações. Sede tu, antes de qualquer coisa. Divide as esperanças com alguém que acredita plenamente nelas, e junto a ele, acredita em ti, porque isso basta.
Ingrid Tinôco
Passo mais horas pensando sobre o que escrever do que botando no papel aquilo que realmente me interessa no momento. Sim, as idéias fluem na velocidade do pensamento que bateria a da luz, se esta não fosse a mais rápida, mas é preciso filtrar e eu acabo escrevendo o bonito ou o feio do coração ao invés de apenas expulsar de mim o que realmente incomoda ou merece exposição. Minha ferramenta vem perdendo a funcionalidade, porque eu preciso das letras arredondadas, desenhadas num papel (ou numa tela de computador em arial 12) para retirar da alma o que me aflinge o suficiente para fazer calar, mas não tenho feito. Tenho calculado, milimetrado, revisado textos e esquecido os verbos que outrora tanto confortaram. Preciso voltar a escrever sobre mim, pra enxergar por outra ótica “o que danado há de errado com a que vos fala”, como num espelho em que se vê defeitos e pode-se corrigi-los com análise posterior, quero falar mal da saúde pública que é minha realidade iminente, quero cantar minhas músicas prediletas para aqueles que conseguem ouvir sons através das palavras, quero denegrir imagens sem dizer os santos, falando, pra quem quiser ler, o quanto certos comportamentos me indignam.
Quero ser menos séria, menos cética, menos textos politicamente corretos ou cercados de sentimentalismos bonitos e verdadeiros, mas que não vem a todo momento.
Quero expulsar.
Por isso vou tentar repaginar o blog e tentar fazer dele, novamente, o que era pra ter sido sempre, o MEU espaço. Onde eu escrevo sobre o que quiser e na hora que quiser, porque isso não é publicidade, é recordação e conforto, por isso, não precisa de métrica.
Tinha uma maneira estranha de demonstrar necessidade. Se armava até que os escudos reluzissem de longe, e a lâmina afiada da espada empunhada arranhasse o “inimigo” com palavras ironicamente colocadas. Não pediria arrego, não questionaria precisões. Queria quem soubesse a maneira certa de retirar-lhe as lanças, de impedir os golpes. No fundo, desejava render-se. Acharia quem não precisasse de explicações para saber que, ao final das lutas induzidas, despia-se de couraças para mostrar-se frágil, dependente de um pouco que parecia fácil mas o qual, não raro, custava a aparecer-lhe.
Ingrid Tinôco